segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Para Quem Vive Num Eterno Abre Alas - Por Lu Dias

Para Dorica a vida era um carnaval que começava no dia primeiro de janeiro e terminava no dia 31 de dezembro.

Nunca aceitou que se pudesse expandir a alegria de viver durante apenas uma “semaninha” por ano.

Mal o sol brotava numa bandinha do céu, surgia Dorica arrastando, pelas ruas da cidadezinha empoeirada,uma rubra camisola de cetim, com uma auréola de rosas de “prástico” na cabeça.
Nos braços, dezenas de fitinhas do Senhor do Bonfim, São João, Iemanjá, Oxós, São Judas e fita das filhas de Maria esvoaçavam, ao sabor de suas gargalhadas. Ela, penso eu, foi a fundadora do ecumenismo no mundo.

O mais pitoresco é que ninguém sabia de quem a nossa rainha carnavalesca ganhara a camisola de cetim. Havia apostas para saber qual corpo pousara ali, antes daquele da ensandecida musa.

Parecia ter sido o de uma mulher esbelta, longilínea, uma vez que tal veste ficava apertada no corpo da atual dama, e ainda lhe sobravam uns 40 cm, pés abaixo, como uma cauda a varrer até os pensamentos, por onde passava.

A camisola rubra de cetim virou um fetiche na cidade.

Dorica era o outdoor a ostentá-lo. Mas o objeto do desejo permanecia oculto.

Como seria aquela diva que nela se aninhara? Quanto cupidez haveria em seus lábios?
Quanta luxuria habitaria seu monumento?

Dorica, alheia aos desejos ocultos, ria e ria com sua rubra camisola de cetim.

E a dama pecaminosa, outrora possuidora da camisola, quem seria?

Dorica na sua sandice, não tinha nem um vislumbre de razão, para citá-la. Perdia-se nos nomes de matronas, cujos corpos jamais passariam além do pescoço da provocativa veste.

A minha doce doidinha parecia se fazer de maluca, rindo da paixão platônica despertada por sua camisola rubra de cetim. Remexia ainda mais as ancas bem feitas.

Confesso, à boca pequena, que almejava ter sido a dona daquela pele vermelha sedosa, que apesar de suja e puída, ainda despertava tantas paixões.
Nem “Gilda” em toda a sua glória, ganharia de mim.
Mas como ousar dizer que o filho era meu, uma vez que os mamilos ainda mal davam conta de brotar? E se naqueles bojos cabiam muita “sustança”, para lá de 44.

Mas num certo sábado de carnaval, Dorica acordou-se de seu transe, para revelar aos mancebos,vagabundos e cães da cidade o nome do ser voluptuoso, que lhe dera o objeto de tamanha perdição.
E sem que ninguém lhe perguntasse, saiu gritando:

Quem me deu foi ROBÉRIO!
Quem me deu foi ROBÉRIO!
Quem me deu foi ROBÉRIO!

Após a confissão, a louca Dorica, caiu novamente em seu transe...

E os machões esconderam os rabos... enquanto outros saíram à cata de ....

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